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segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Felicidade

Passam horas a mais, dias em que estou só e sei que está tudo errado. No quarto um estúpido cartaz grita em letras berrantes “Make your own HAPPINESS” - faz a tua própria felicidade - e o meu ego recolhe-se em si mesmo. Não vale de nada. Tentar. Se a felicidade fosse verbo ela só seria conjugada no plural. Nós felicidade, vós felicidade, eles e elas felicidade, a ti e a mim? A ele, ela?

Nada.

Felicidade não tem tom de nome, de advérbio ou de adjetivo, tem sim tom de saudade, de onomatopeia forte demais para ser gritada aos ventos fora de sonhos.

Passam meses a mais, anos e eu sei que estou a fazer tudo errado. E o simples porquê repete-se, por mais que eu tente, eu não sei fazer felicidade.


Cristina Lemos.

A morte

A morte saía-lhe pelas narinas
folgante com cada respirar
e no corpo pesado era cinza que a fazia pesar
Imensa e enraizada de medo, ela, não a morte
e por mais que lágrimas subissem ninguém chorou
- ou morreu
Se as luzes passassem com força a iridescência não teria lugar
Se o copo pesasse mais não teria força para o levantar
A morte ainda não lhe saiu das veias
ela luta, brava, para se libertar
de amarras brancas e nódoas negras
que olhos nenhuns deviam observar
De raiva
Com raiva
A morte evade-lhe por teimosia.

Cristina Lemos.